terça-feira, 1 de novembro de 2011

Fome


Nem uma palavra frutificou
Em meu po(e)mar
Nenhum murcho verbo em minha dispensa
Em minha mesa de jantar

Esfaimado, então, pus-me a perguntar:

O quê comer? Do que me alimentar?
Onde conseguir
A substânciaverboalimento
Que há de me nutrir?

E as musas disseram-me assim:

Todos os poetas são canibais!
Alimentam-se da carneverboescrita
De seus ancestrais
Todos os poetas são canibais!

terça-feira, 26 de julho de 2011

Sermão social



Não cultuarei a beleza
Não admirarei os astros da caixa de plasma
Nem os seios da cerveja
Não me cegarei na tua gravata de seda
Ou no teu vestido de cetim

Quero sem medo encarar o mal que me assusta
No olhar perdido no abismo negro de rugas
Do homem que perambula a cidade

Não cultuarei tua imagem
Nem afagarei teu ego
Não dançarei as danças do acasalamento sem música
Nem venderei meus dias em troca de uma carruagem conversível
Apenas para ter um sorriso de plástico ao meu lado

Quero sem medo encarar os gemidos daqueles que pagam pelo luxo dos prédios
E nos sussurros esquecidos dos loucos que andam sem rumo
Escutar as verdades sobre a origem do mal




sábado, 9 de julho de 2011

Cadeira do tempo



Sento-me sobre esta cadeira
Como se sentasse sobre o relógio
Passa dia, passa hora
Passa o tempo
e vai embora
Sento-me sobre esta cadeira
Sem alento, como se sentasse
Sobre o próprio tempo.




terça-feira, 19 de abril de 2011

Poesia urbana



Eu ando pelas ruas escutando o som de máquinas
deslizando sobre o negro asfalto
Transportando sonhos,
pensamentos e corações

Mais um sonho e mais um sonhador morreram atropelados
 pelo próprio transporte
e fomos testemunhas de passagem
do insentido pesadelo di’alguém

Ao som de bips e imagens gigantes nos outdoors
Que avisam que cor terá o outono
Inverno

E os poetas radicais-modernos
Usam ray-ban e fazem versos virtuais
Cantam
Poesia urbana!
Poesia urbana!

 Garotas dançam ao sabor de pílulas e papéis
Adorando modernos deuses químicos
Do alto da torre os velhos vilões
Criam as proibições

E depois as vendem em qualquer esquina
Olhos deslizam as escadas rolantes
Comprando as imagens da televisão

Os casais se abraçam à luz da lua em blue-ray
Vivendo amores e fantasias
Digitais

E os poetas, livres radicais, modernos
Usam penas online em seus note-books
Cantam pela rede
Poesia urbana!
Poesia urbana!


sexta-feira, 4 de março de 2011

São teus olhos




Os pássaros confessaram suas falhas
Naquele verão de céu desabitado
Tu mesmo estavas triste e recolhido
À olhar o Mar
E achá-lo pequeno
Mas não era o Mar pequeno
Eram teus olhos!
Eram teus olhos!
São teus olhos que limitam o tamanho do Oceano
São teus olhos!







quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Retratos poéticos no Viva Porto Velho




Exposição que une os olhares fotográficos de Michele Saraiva
e a poesia de Elias Balthazar.
Realizada pelo SESC/RO. 2010



Imagem e verbo


A imobilidade da fotografia não é momento preso,
nem silêncio imposto, é dialogo em potencial.
Se meu verbo é cego e tua imagem muda
nos emprestemos então os sentidos ausentes
e façamos da falta a completude

Elias Balthazar

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Sobre as crenças



   Se uma coisa só se confirma como tal em referência a outras coisas,
    como crer em uma verdade única?



terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Curitibando

Teço meu descanso no diluído do tempo, no momento sem fim
Onde a vida é um ato, único, simbiótico
Na ausência do sol a tarde azul profusa emana sua brisa sorridente
O vento rodopia nas folhas, que cantam, dançam
e enfeitam a aceitável morte do dia

O salto da alva rosa apressada, que farfalha sua saia, suas pétalas postiças,
Dialogando com o assovio do vento
A cadência da bela do ocaso que passa sem negar seu olhar
Ela conheçe o segredo da tarde

Tecendo o entardecer cruzam transeuntes, solitários, completos, perdidos em si,
concorrendo os autos que riscam a visão com suas cores velozes,
compondo o espaço no tempo sem tempo

É sem sol, é sem fogo e sem horas, e apenas sabemos ser tarde
É tarde, meu amor, é tarde em Curitiba




.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Olhar sobre tela

Por entre as cores, traços, linhas,
afetos e cubos e beijos sem formas
Seres amarelos e verdes, “loucos”,
“homem, flor e gato”, “bichos do mato”
“mágoas e sombras na esquina”

“São as lembranças” em cores
e formas distorcidas
De meses e anos e das areias do tempo
do “agosto em chamas”

Da estrada, “o viaduto”, incompletos,
esquecidos antes do fim
como o perdido olhar da moça vermelha,
no azul, entre as águas e as “luzes de santo Antonio”

“Trabalhadores da usina”,
“mudam o rio, mas o rio
não muda”...
...os homens...




Sobre a exposição do pintor Moises Costa

http://inconstantementetraco.blogspot.com/

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Ela mente


Não te esqueças de que tua mente é uma produção cultural...