quarta-feira, 26 de maio de 2010

Tez poética



Encanta-me a forma com que teus expressivos olhos úmidos
como chuva fina que convida o aconchego
levam-me a perceber o ardor dos teus lábios vermelhos
que surgem de tu’alva face de musa como o desabrochar de uma rosa
apresentando-me sempre sorriso intenso

E tua tenra pele me recorda aroma botânico
de pureza libertina
Visto-te compridos brincos de tiras de prata
que reluzem o fulgor destes teus planetas em forma de olhos
por vezes ocultos entre os anéis das tuas melenas cortinais ao sabor do vento

Absorve-me em sensual devaneio
em teu deslizar sobre a terra como quem ensaia voejar
e a carícia dos ventos diurnos sobre o tecido florido
do vestido que te proíbe o corpo
me transmuta desejos

O tecido floral que te esculpe contra a brisa lusco-fusco
lembram-me a leveza visual d’estatua grega ou romana
que agraciou-se de vida e intentou desfile entre seres humanos
Tua tez ao vestir ensolarados sorrisos de várias graças
confundem-me ainda teu meigo ser com sublime poesia

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Sonho infanto
















(Foto: Michele Saraiva)


Meu real é sonho infanto
onde cavalgo corcel mecânico de aço enferrujado
a quem empresto asas

Em excursões fantásticas
através de dimensões somente minhas
Recuso estar duas vezes no mesmo lugar

Meu sonho é real infanto
onde passeio espaços
que não servem à real gravidade

Sou mago de magia imaginária
e o ingênuo mistério dos meus feitiços consiste apenas
em ainda não ter aprendido que só existe um mundo




quinta-feira, 6 de maio de 2010

Do assassínio dos pudores


Foi grito horrível e desfigurado
o que se fez ouvir
quando o assassinato sanguinolento dos pudores se deu
pela força de uma nova vontade
que surgia pura

Foi também grito satânico e escárnio poético
o que ecoou pelos ares profanos
da hipócrita cidadela e que em outras palavras
não pronunciavam nada além do que:
Vive La liberté, vive le corps!

O alarido das tropas inumanas, que camuflavam a existência
transfigurando-a em matéria incolor
foi urro de terror para aqueles que temiam existirem de fato,
mas foi também trombeta de anunciação
e música heróica para aqueles que ousaram cantar...

O defunto pudico esfacelado sobre as pedras da viela noturna
compunha agora um solo escarlate,
em um vilarejo antes sem cor e sem vida, perdido na excessiva rotina
composta por aqueles que se ocultavam por detrás de um mantra negro
jamais compreendido, nem mesmo pelo mais sabio dos humanos, a que chamavam: Verdade!

O hediondo grito
que reverberou pelas ruelas da sólida vila
foi para ouvidos mais sensatos um viva poémico de um novo saber
que aquém de pretender enfadonhas buscas ilusórias por verdades apenas anunciava:
Eu me proclamo a favor do corpo!