quinta-feira, 6 de maio de 2010

Do assassínio dos pudores


Foi grito horrível e desfigurado
o que se fez ouvir
quando o assassinato sanguinolento dos pudores se deu
pela força de uma nova vontade
que surgia pura

Foi também grito satânico e escárnio poético
o que ecoou pelos ares profanos
da hipócrita cidadela e que em outras palavras
não pronunciavam nada além do que:
Vive La liberté, vive le corps!

O alarido das tropas inumanas, que camuflavam a existência
transfigurando-a em matéria incolor
foi urro de terror para aqueles que temiam existirem de fato,
mas foi também trombeta de anunciação
e música heróica para aqueles que ousaram cantar...

O defunto pudico esfacelado sobre as pedras da viela noturna
compunha agora um solo escarlate,
em um vilarejo antes sem cor e sem vida, perdido na excessiva rotina
composta por aqueles que se ocultavam por detrás de um mantra negro
jamais compreendido, nem mesmo pelo mais sabio dos humanos, a que chamavam: Verdade!

O hediondo grito
que reverberou pelas ruelas da sólida vila
foi para ouvidos mais sensatos um viva poémico de um novo saber
que aquém de pretender enfadonhas buscas ilusórias por verdades apenas anunciava:
Eu me proclamo a favor do corpo!